Você pode até torcer o nariz quando, escandalosamente, sobe no seu feed um vídeo de alguém apontando o dedo pra tela e te dizendo como você tem que agir numa situação x ou y, oferecendo uma mentoria,
Um curso ou desconto no ingresso pra participar de um evento que vai destravar as suas habilidades e te transformar num profissional disruptivo, num comunicador nato ou num amante feroz e irresistível. Eu sei, hoje tem coach de tudo, pra tudo que é lado em absolutamente todas as redes sociais.
E quem diz isso são os números de uma instituição chamada ICF, a Federação Internacional de Coaching. Os dados no site deles podem animar pra caramba quem pensa em entrar nessa área. No mundo inteiro, o mercado de coaching já tem US$4,5 bi na mesa.
No ano passado, o preço mundial médio de uma hora de sessão desses profissionais foi de US$244, ou coisa de uns R$1200 no dólar de agora. É uma hora de atendimento pra ganhar quase um salário mínimo brasileiro.
E se tem tanta grana assim orbitando esse tema, o Google resolveu decolar essa discussão dentro de casa usando a própria inteligência artificial generativa, o Bard, como candidata a coach das massas. Quem levantou essa bola foi o jornal The New York Times, dos Estados Unidos.
que a gigante tá fazendo vários testes pra transformar a ferramenta em palpiteira de qualquer um que pergunte qualquer coisa, de conselhos de vida e ideias de trabalho a instruções de planejamento e dicas de tutoria, que é tipo ensinar habilidades novas pras pessoas ou fazer o usuário melhorar alguma habilidade que ele já tem. Isso pode incluir orientações de como se exercitar melhor, planos de refeição e por aí vai.
Se você curte o assunto e já leu alguma coisa sobre ele, sabe que, pra dar respostas que façam sentido, as IA´s precisam ser treinadas por humanos. O The New York Times ainda fala em mais de 100 especialistas com doutorado em várias áreas participando desses treinamentos. E isso é grande.
Se for tão fácil conseguir essas informações com uma plataforma que tá disponível em segundos e “sem custo” (entre aspas porque quando alguma coisa é de graça, o produto deve ser você),
A gente tá falando de um negócio que pode e vai impactar muitas profissões, certo?! Nos exemplos que eu dei, como ficam os preparadores físicos e os nutricionistas? Mas aí vem a pergunta: Você vai confiar cegamente numa inteligência artificial pra garantir a integridade física dos seus exercícios, a sua saúde e a sua alimentação? E se for pros seus filhos?
Mesmo sem ter oficialmente o sistema rodando no Bard, eu resolvi fazer um teste rapidinho na plataforma pra ver como ela se sai. De um jeito bem simples, eu perguntei o seguinte lá: “recebi uma oferta de emprego. O que eu faço?”. Ele me respondeu o seguinte:
É um grande passo na sua carreira. Aqui estão algumas dicas sobre o que fazer a seguir:
Leia a oferta com atenção. Certifique-se de entender os detalhes da posição, incluindo o salário, os benefícios e os requisitos.
Pesquise a empresa. Saiba mais sobre ela, seus produtos ou serviços e sua cultura.
Tome um tempo para decidir. Não é uma decisão fácil, então não se sinta pressionado a aceitar a oferta imediatamente.
Se você decidir aceitar a oferta, responda ao seu futuro empregador o mais rápido possível.
Aqui estão algumas perguntas específicas que você pode fazer ao seu futuro empregador:
Quais são as minhas responsabilidades e expectativas?
Como será o meu dia-a-dia?
Quais são as oportunidades de crescimento e desenvolvimento na empresa?
Como é a cultura da empresa?
Se você tiver alguma dúvida ou preocupação, não hesite em perguntar. Seu futuro empregador estará feliz em responder às suas perguntas.
Faça sua pesquisa. Saiba o que outros profissionais com suas qualificações ganham em posições semelhantes.
Seja confiante. Não tenha medo de pedir o que você quer.
Seja profissional. Mantenha a conversa positiva e respeitosa.
Se você não estiver satisfeito com a oferta inicial, não tenha medo de negociar. O pior que pode acontecer é que eles digam não.
Ainda é bastante genérico, mas já traz um monte de insights importantes a partir de uma pergunta extremamente simples. Mais que isso já entra, definitivamente, num tipo de aconselhamento que pode impactar bastante a vida de quem pergunta. E se o candidato seguir recomendações ainda mais específicas e não der certo? E se a pessoa achar que a culpa dela não ter conseguido o emprego for do Google? E se ela achar que a carreira dela foi arruinada por uma escolha que partiu de uma orientação dada por um robô?
Eu acho real oficial que todas essas perguntas são super válidas, mas eu vou trazer aqui um questionamento que sempre faço quando o assunto são as inteligências artificiais generativas. Tudo, absolutamente tudo que elas trazem se baseia na média de uma infinidade de resultados. Mesmo que sejam conselhos de vida, ou sugestões de decisões importante a serem tomadas, as respostas vão ser baseadas no que a maioria já fez antes.
Topar usar uma inteligência artificial cegamente como guru da própria vida, portanto, pode ser sim muito arriscado. Pra essa função vale o mesmo que pra todas as outras quando o assunto é esse tipo de tecnologia. As respostas devem ser usadas como referência de um caminho que pode ser seguido, mas que deve SEMPRE ter o apoio de outras fontes, de outras vozes, de mais referências.
E se você é coach e tá lendo esse texto, fica sossegado, tá?! Quer dizer, fica sossegado se você confiar no seu trabalho a ponto de saber que você é melhor que a média. Se for o caso, você até pode usar essa eventual função do Bard pra startar o seu trabalho e, a partir do que ela trouxer, ir pras especificidades que só o seu cliente tem e você vai conseguir enxergar como ninguém de um jeito humano, carinhoso, empático.
Achar que o Bard vai roubar o seu trabalho é assinar um atestado de ser grosseiramente abaixo da média. E no mercado de trabalho de 2023, com tanta concorrência e tanta tecnologia, ser abaixo da média é que é o problema. E isso vale pra qualquer profissão… pra qualquer conselho de vida.
Fonte : CNN Brasil